1. Introdução

Este é um texto introdutório à temática das Tecnologias de Apoio (TA) para pessoas com deficiência. O conceito de tecnologias de apoio aqui veiculado é definido como “Uma gama ampla de dispositivos, ajudas técnicas, serviços e práticas, concebida e aplicada para promover a melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência” (adaptado de (Cook & Polgar, 2008)). Neste livro, fazem-se inúmeras referências aos chamados “Produtos de Apoio” (PA) existentes no mercado que, numa perspetiva de intervenção multidisciplinar, são parte integrante das tecnologias de apoio (e, por vezes, com elas se confundindo). Os PA ajudam a apoiar intervenções dos técnicos de Educação Especial e Reabilitação nos grupos de pessoas com deficiência, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida.

Um objetivo importante deste livro é o de divulgar a área da Engenharia de Reabilitação, um domínio científico em que a Engenharia é aplicada à Reabilitação de pessoas com deficiência, em particular através da investigação e desenvolvimento de produtos de apoio. As referências bibliográficas incluídas permitirão ao leitor aprofundar os conhecimentos nas suas áreas de interesse. Os exemplos de produtos de apoio apresentados são acompanhados dos endereços eletrónicos dos fabricantes ou empresas que os comercializam, por forma a facilitar a pesquisa sobre o que está disponível no mercado.

Existem milhares de produtos de apoio. Como exemplo, em www.abledata.com é mantida uma base de dados eletrónica de produtos de apoio que contém cerca de 20.000 entradas. Os produtos aí listados vão desde os mais simples, de reduzido desenvolvimento tecnológico (como um talher adaptado), aos produtos mais sofisticados que incorporam um elevado grau de desenvolvimento tecnológico (cadeiras de rodas elétricas ou sistemas de comunicação eletrónicos, por exemplo). Note-se que alguns objetos de uso comum poderão também ser encarados como tecnologias de apoio, quando usados no contexto da Reabilitação (um telefone portátil com uma agenda eletrónica, por exemplo, poderá ser usado por um idoso como uma ajuda à cognição, funcionando como um auxiliar de memória). Não se pretendeu neste livro fazer uma lista exaustiva de todos os produtos de apoio, mas sim apontar as “famílias” principais, apresentando exemplos concretos e indicando referências bibliográficas onde o leitor poderá obter mais informação sobre cada uma das “famílias” de produtos. Em Portugal, por iniciativa do Instituto Nacional para a Reabilitação, I.P., foi criado o CNAT – Catálogo Nacional de Ajudas Técnicas com os produtos de apoio existentes no mercado português, disponível em www.ajudastecnicas.gov.pt. No entanto, até à data de edição deste livro, esta base de dados não sofreu qualquer atualização desde 2009, pelo que o leitor deverá procurar noutras fontes informação nacional complementar sobre tecnologias de apoio.

Os diversos temas deste livro foram organizados por áreas de desempenho (mobilidade, manipulação, comunicação, orientação e cognição), ao invés de serem organizados por tipo de deficiência. A discussão é, assim, sempre centrada na atividade dinâmica que uma dada pessoa quer realizar, tendo em conta as condicionantes pessoais e do contexto em que a atividade tem lugar, e não nas eventuais incapacidades da pessoa. Adota-se um modelo bio-psico-social e integrado da deficiência, em que a funcionalidade e incapacidade de uma pessoa são concebidas 13 como uma interação dinâmica entre os estados de saúde (doenças, perturbações, lesões, etc.) e os fatores contextuais (fatores ambientais e pessoais) (Direcção-Geral da Saúde, 2004). Este modelo harmoniza as visões do modelo puramente médico (World Health Organization, 1980), em que se estabelecia uma relação causal e unidirecional entre deficiência, incapacidade e desvantagem, centrando-se nos aspetos negativos da pessoa e ignorando os fatores ambientais, e as visões do modelo social (Oliver, 1990), em que a deficiência era vista como uma consequência das múltiplas opressões sociais sobre as pessoas com necessidades especiais, centrando-se nos direitos destas pessoas.

Tentou-se usar neste livro uma linguagem que resulta de um consenso atual, entre os diversos intervenientes na área de Reabilitação, sobre os termos em Português mais adequados para descrever as questões em torno da deficiência. No entanto, os autores têm consciência que a linguagem utilizada nestes temas contém sempre uma elevada carga subjetiva, que estes consensos evoluem no tempo e que existem críticas bem fundamentadas à linguagem atualmente utilizada.

Tratando-se de uma primeira edição, poderão ter escapado aos autores alguns erros ou falhas na abordagem aos diversos temas. Certamente muito se poderá vir a melhorar, no sentido de se obter um texto mais claro e mais completo. Assim, os autores agradecem desde já todas as sugestões e correções que os leitores entendam enviar-nos.

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